Vital na mecânica das passadas, o músculo piriforme localiza-se bem no meio da nádega — sob o músculo glúteo máximo. Quando elevamos o pé do chão na troca da passada, ele ajuda a estabilizar a pelve, além de auxiliar na abdução e rotação externa do quadril. Por baixo ou por dentro desse músculo passa o nervo mais longo do corpo humano, o ciático, que estende-se da região lombar até o dedão do pé. Estimulado (ou tensionado) em excesso, o piriforme cresce, irritando e depois inflamando o nervo ciático. Com isso, desencadeia-se a chamada síndrome do piriforme, ou dor glútea profunda, que acomete principalmente as mulheres.
“Constantemente, temos de rodar o pé para fora para nos equilibrar, frear etc. Isso faz com que o músculo piriforme se contraia. Ao mesmo tempo, ele comprime o nervo ciático, aumentando o risco de lesá-lo por esmagamentos de repetição”, descreve o ortopedista Lafayette Lage. A dor se concentra na região lombar e na glútea, mas pode se irradiar para a perna, coxa e região espinhal.
Por isso, esta lesão é de difícil diagnóstico. A chance de sofrer uma síndrome do piriforme pode aumentar com treinos frequentes em longos declives, subidas e terrenos irregulares, que forçam uma repentina rotação do quadril. A hipertrofia excessiva dos glúteos — prática comum entre as mulheres que malham em academias — também pode gerar essa lesão. Outros atletas afetados por essa síndrome são os ciclistas, triatletas e frequentadores de academias, que passam muito tempo exercitando-se sentados. Ficar muito tempo sentado no trabalho ou passar horas dirigindo, aliás, também podem desencadear esse desconforto.
Dor parecida, lesões diferentes O piriforme tanto recebe a carga do peso corporal como é uma confluência de ossos, ligamentos, músculos, vasos e nervos, tanto da coluna vertebral como no quadril. Isso pode confundir até o médico mais experiente. “Quando todas as causas de dor na região da coluna e do quadril são excluídas, pensa-se nesta síndrome”, explica o ortopedista Giancarlo Polesello. Algumas das patologias que podem se confundir com a síndrome do piriforme são a lesão do menisco do quadril, o impacto fêmoroacetabular (síndrome do impacto), as hérnias de disco e a artropatia soropositiva na articulação sacroilíaca.
CAUSAS
• Trauma na região das nádegas.
• Variações anatômicas e alterações biomecânicas — como rotação externa da perna inadequada e má postura — que encurtam o piriforme e sobrecarregam o músculo.
• Hipertrofia dos glúteos.
• Treinos frequentes em subidas, descidas e terrenos irregulares.
SINTOMAS
• Dor profunda e contínua localizada na região lombar e na glútea, na superfície posterior do quadril ou irradiada pelo nervo ciático ao longo do corpo.
• Formigamentos nas coxas ou dor irradiada pelos membros inferiores.
• Incapacidade de ficar sentado numa mesma posição.
• Dor noturna.
TRATAMENTO
• Corrigir a postura e gestos do corredor, que favorecem a tensão do músculo piriforme. Caso não atenue a dor, recorrer à fisioterapia, com exercícios de alongamento de toda a região da cintura pélvica e reequilíbrio muscular por meio de exercícios do core.
• Infiltrar o músculo piriforme (com anestésicos e medicamentos), guiado por ultrassom ou tomografia.
• Repousar. A regeneração do nervo ciático é lenta (de quatro a seis meses), principalmente nos corredores que insistem em correr por meses com dor. “A terapia de sinais pulsáteis pode ajudar, mas é cara”, explica o dr. Lafayette Lage.
• A opção cirúrgica é pouco recomendada. Em geral, o tratamento conservador cura a lesão.
PREVENÇÃO
• Trabalhar especialmente os músculos profundos do abdome e o equilíbrio dos abdutores, adutores e rotadores do quadril.
• Evitar ficar muito tempo sentado.
RETORNO À CORRIDA
• Não voltar aos treinos antes de cessar a dor na região lombar e dos glúteos.
• Só voltar se conseguir correr em linha reta e em curva sem sentir dor.
• Evitar as corridas em ladeiras, subidas e terrenos irregulares na volta aos treinos.
Fonte: Revista O2
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